Foi a partir de uma conversa totalmente despretensiosa e sobre qualquer assunto que uma frase ricocheteou em minha cabeça durante dias, e principalmente sob minha ótica mais ligada à fotografia; “Em 2025, seu avô fará 101 anos de idade! Imaginem, nascido em 1924, cresceu depois da primeira guerra e viu todos os horrores da segunda grande guerra...” . Tomarei a liberdade aqui de chamar o tal avô de José.
Não. A frase não me desceu bem e, indigesta, me levou a percorrer nossa breve história fotográfica e ainda mais precisamente, nossa brevíssima história fotográfica de um mundo de imagens popularizadas e acessíveis. Como posso afirmar que uma pessoa, morador de uma área rural de uma cidade no interior de São Paulo, com aproximadamente 15 anos em 1939 e 21 em 1945, “viu” os horrores da segunda guerra mundial?
Talvez, infectados pelo vírus “instagramus immediatus” (e não dêem um google pois o termo nasceu da minha cabeça), tenhamos nos acostumados em abrir um App e, imediatamente, ver um sujeito que você não conhece se deliciando com um café dentro de uma trincheira na Ucrânia, ao vivo e a segundos atrás. Na verdade, nós todos nos esquecemos que a fotografia é uma senhora com cerca de 200 anos que se exibiu apenas nos salões mais letrados do mundo por mais de cento e cinquenta anos. Ou seja, José, em sua simplicidade rural em uma cidade do interior de São Paulo em 1939, provavelmente viu bem pouco da segunda grande guerra.
Ainda, se adicionarmos aqui que a fotografia é o suporte para uma linguagem e, como tal, requer uma certa fluência para ser feita e entendida, me questiono se José teria capacidade de compreender, em toda sua profundidade, a fotos de Lee Miller ou Robert Capa sobre o assunto.
Tudo isso me lembrou não só do quanto somos, atualmente, bombardeados e super informados por imagens, mas que José, as margens de seus 101 anos pode estar vendo e entendendo o mundo ao vivo, tudo através de imagens instantâneas e onde quer que esteja.
Foto de Lee Muller / Getty